Eu mesma já disse muitas vezes: o “Brasil é um celeiro de missionários”, “chegou a nossa vez”, mas, percebo ter esquecido de dizer que os missionários brasileiros estão entre os que menos recebem contribuições de suas igrejas e que em nosso país se valoriza mais a quantidade de missionários que determinada igreja tem, do que a qualidade com que são mantidos e tratados, não há preocupação com a aposentadoria do missionário, nem tão pouco com sua recolocação após o retorno do campo e os salários ficam congelados por anos, sem que ninguém atente para isso. Existem pouquíssimas exceções a essa regra.
É, muita coisa precisa ser revista. Há vários compor-tamentos típicos na Igreja em relação à obra missionária ou ao missionário em si, e quero, com muita humildade, abordar alguns:
Há crentes, ministérios, pastores e igrejas que veem o missionário como um cidadão de segunda classe, alguém que não “deu certo” aqui e aventurou-se pelo campo missionário por pura incompetência. Claro que, se a visão é essa, ninguém tem o menor desejo de orar, contribuir ou ajudar.
Dá-se qualquer coisa. Doa-se para o missionário, sem o menor pudor ou vergonha, o ventilador sem hélice, a roupa usada em péssimo estado, a geladeira sem motor, o ferro sem resistência, enfim, tudo o que é sem valor ou que difi-cilmente teria alguma utilidade.
Crentes semeando lixo na obra mais importante da ter-ra, investindo sobras na obra pela qual o Cordeiro deu Sua vida.
Na verdade, não tenho medo de afirmar que essa histó-ria de que o missionário deve ser miserável para provar sua devoção, deve andar mal vestido, passar fome e, depender da caridade alheia para sobreviver, nasceu no inferno. É do diabo essa forma de pensar, e ele tem feito um excelente trabalho de marketing, porque são muitos os cristãos que pensam dessa maneira.
Certa vez, enquanto eu estava no campo missionário nas inóspitas selvas bolivianas, recebi de uma irmã um par de sapatos de cores e modelos diferentes, amarrados com uma cordinha e com um bilhete que dizia: missionária, aqui está esse par de sapatos, sei que são diferentes, mas você não se importa, não é? Afinal de contas, você é missionária…
Encontrei certo dia, um amigo, também missionário, em uma feira na cidade de Guajará Mirim, ele estava indo diri-gir uma reunião com os índios quéchuas, quando parei para cumprimentá-lo, percebi que usava uma calça jeans muitos números maior que o seu manequim, quando lhe perguntei o porquê, ele me disse que uma irmã, proprietária de uma grande loja, havia percebido que ele só tinha uma calça e lhe ofereceu uma que nunca havia conseguido vender, por ser muito grande e feia.
Olhe aí, o marketing do diabo dando certo novamente. Não presta? Doe para missões. Está velho demais? O missionário reaproveita. Quebrou? Dê para o filho do missionário. Rasgou? A missionária remenda.
Uma oferta assim agride a santidade de Deus, Ele deu Seu único Filho por essa obra, Jesus deu Sua vida para torná-la possível e nós não podemos desvalorizá-la ao ponto de nossa oferta ser uma vergonha diante dos céus.
Quer abençoar um missionário, dê algo novo ou em per-feitas condições de uso, lembre-se, sua contribuição é uma excelente régua para medir seu compromisso.