Deus é totalmente digno de confiança. Deus jamais decepciona os que confiam nele.
“Chegamos ao entardecer, desligamos o motor e imediatamente percebemos que estávamos sendo observados por entre as folhagens. O irmão me acompanhou até o alto do barranco e a aldeia estava vazia. Caminhamos e ele descobriu que os homens estavam ausentes e as mulheres escondidas com medo de nós.
Ele me olhou bem nos olhos e perguntou:
“Tem certeza que quer ficar aqui? Porque não volta comigo e esquece essa história de índio? Ninguém vai levar a mal.”
“Impossível voltar atrás. Chega um momento em que nós precisamos escolher se confiamos em Deus ou não. Esse momento chegou para mim e eu escolho confiar n’Ele.”
Ele se foi e eu fiquei ali, sozinha, temerosa, mas muito feliz.
Uma índia chamada Ewatembé veio falar comigo (Eles conheciam o português comercial) e me informou que eu não poderia entrar na aldeia até que os homens chegassem da mata, somente o cacique poderia autorizar a minha entrada.
Sentei em baixo de uma árvore e acabei adormecendo em cima da mochila. Estava exausta da viagem, a pele ardia por causa do sol, a roupa ainda estava encharcada da água da chuva. Sentia-me fraca devido à ausência de alimentos durante o dia.
Acordei ouvindo vozes masculinas. Eles falavam alto e riam, carregando nas costas enormes porcos do mato abatidos por suas afiadas flechas para a alimentação da semana. De repente fez-se silêncio e o cacique, mesmo antes de me ver, perguntou a Ewatembé quem estava na aldeia. Ela não disse uma palavra, apenas apontou em direção à árvore que eu estava.
Eles se aproximaram e o cacique perguntou quem eu era e o que estava fazendo ali. Disse a ele que me chamava Kelem (ele nunca conseguiu pronunciar meu nome) e que estava ali para conhecê-los e para falar a eles um pouco mais acerca do Deus criador dos céus e da terra e de seu filho Jesus.
Ele me convidou para acompanhá-lo até sua cabana. Todos faziam silêncio absoluto. Ele entrou e saiu com uma flecha maior do que eu, cuja ponta de osso afiado, media mais de um palmo e deu-me a impressão de que poderia dividir ao meio um fio de cabelo.
– Você sabe o que é isso? Perguntou.
– Sim. É uma flecha. Respondi.
– E você sabe para que serve? Tornou a perguntar.
– Serve para caçar animais e arpoar peixes na beira do rio. Respondi.
– Errado. Ela foi confeccionada especialmente para invasores que vem de longe para nos enganar e roubar. Um outro como você já morreu na ponta dela.
Fiz uma oração relâmpago: Deus, eu não vim aqui para morrer. Socorre-me, em nome de Jesus.
Levantei a cabeça, olhei bem nos olhos dele, com o dedo indicador da mão direita ,empurrei a ponta da flecha da minha direção e lhe disse:
“Eu não morrerei na ponta de sua lança. Vim aqui para lhe trazer um recado da parte de Deus e só irei embora quando tiver terminado o que vim fazer. Não vim lhe fazer mal, olhe para mim, nada além do amor me trouxe até aqui”. Trecho do livro Pakau, CPAD, Kelem Gaspar
Se Cristo comigo vai, eu irei…
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